Redes sociais destoam da internet em investimentos publicitários

Alessandro Janoni é diretor de pesquisas e tendências na Imagem Corporativa 05 de julho de 2023
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Tv aberta tem queda de participação e meio digital cresce; mídia social perde espaço na rede

A internet fechou 2022 com participação recorde em investimentos publicitários no Brasil, com 35,7% de share. A TV aberta por outro lado teve o pior desempenho da história – 41,7%. Em 2023, a tendência se mantém. Dados divulgados em junho pelo Cenp (Conselho Executivo de Normas Padrão) revelam que no primeiro trimestre deste ano, esses percentuais correspondem a 33,9% e 46,3%, respectivamente.

Comparando-se com igual período do ano passado, a TV aberta perde 3,7 pontos percentuais e a participação da internet cresce 6,3 pontos. Considerando-se os primeiros trimestres desde 2019, antes da pandemia, a TV consolida desempenho negativo de 8,4 pontos no share e a internet agrega 14,8 pontos.

Se durante o isolamento do período pandêmico, a TV aberta conseguiu manter sua participação majoritária, mesmo com o crescimento em percentual dos investimentos na internet, com a retomada da dinâmica social o meio vem perdendo espaço para o ambiente digital. Comparando-se os números atuais com os do primeiro trimestre de 2021, a queda de share da TV aberta é de 10,6 pontos, escore exato de crescimento da internet no mesmo período.

Tão interessante quanto essa mudança na participação dos meios no mercado é a evolução em percentual dos tipos de inserção da publicidade nas plataformas digitais. Percebe-se, por exemplo, que a curva das redes sociais, que apresentou crescimento de 7,8 pontos percentuais de share entre os primeiros trimestres de 2019 e 2021 (de 19,7% para 27,5%), sofreu refluxo de 7,5 pontos em período equivalente nos últimos dois anos. Na mesma comparação, cresce o investimento em displays – 12,2 pontos percentuais em relação ao primeiro trimestre de 2021.

Apesar de evoluir em valores absolutos, o dado chama a atenção – o Brasil é um dos países que mais usa redes sociais no mundo (atrás apenas de Índia e Indonésia) e é o primeiro do ranking na América Latina para essas plataformas, segundo levantamento divulgado pela Comscore em dezembro de 2022.

Os motivos para o fenômeno ainda demandam estudos, mas a explicação talvez seja mais qualitativa do que quantitativa. Redes sociais estão na berlinda. O Pew Research Center há muito mostra o quanto as plataformas vêm sendo associadas a aspectos negativos pela maioria dos americanos (64%). Quando questionados sobre o motivo, a maior parte (28%) diz que elas geram desinformação por propagarem notícias inventadas.

No Brasil, pesquisa recente do Datafolha revela que os internautas do país elegem as fakenews como principal conteúdo de rejeição nas redes (92%) em um ranking onde também figuram de pornografia a imagens de cadáveres. Isso porque, como revela o mesmo levantamento, o hábito mais frequente dos brasileiros na internet é o de ler notícias e se informar.

Na edição deste ano do estudo do instituto Reuters com a Universidade de Oxford sobre o consumo de notícias, as fontes online de informação no Brasil apresentam queda de quatro pontos percentuais em relação a 2022, puxadas para baixo principalmente pelas redes sociais (queda de sete pontos, em período equivalente). Com esse cenário fica fácil compreender o crescente descrédito do noticiário no país – queda de 11 pontos no grau de confiança em dois anos (de 54% em 2021 para 48% em 2022 e 43% agora).

Considerando-se os resultados, com prejuízos em várias esferas, seria razoável supor o interesse de diferentes atores no avanço do projeto que regulamenta a atividade do setor no país, o chamado “PL das Fake News”. No entanto, o debate, que envolve questões como responsabilização e censura, promete se estender. Talvez para além dos próximos números do Cenp.

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