Reeleição polêmica de Maduro coloca país em destaque no debate presidencial dos EUA
Sem novidades, o tema da imigração é um dos principais drivers na cobertura jornalística americana sobre o debate eleitoral para presidente dos EUA deste ano. No entanto, quando o assunto é associado à América Latina, a pauta é superada pela reeleição conturbada de Nicolás Maduro na Venezuela.
Estudo da Imagem Corporativa em parceria com o Grady College da Universidade da Georgia (EUA), realizado de janeiro a setembro de 2024, mostra que dentre 10 países latino-americanos, Venezuela foi o mais citado – alcança mais de 3 mil menções em uma amostra superior a 5 mil artigos rastreados em plataformas digitais de conteúdo noticioso (portais e sites de veículos de comunicação) dos Estados Unidos.
México fica em segundo lugar com quase 2 mil menções, seguido por Cuba e Brasil (ambos com pouco mais de 300 citações, cada). Colômbia completa a lista dos cinco mais citados, com 120 referências. Argentina, Chile, Equador, Peru e República Dominicana aparecem atrás – somados, totalizam 162 menções.
A temática política predomina no levantamento, e deixa bem para trás questões como comércio e diplomacia, por exemplo, que podem ser impactados no contexto das relações EUA-América Latina dependendo do resultado eleitoral.
Tanto as eleições presidenciais da Venezuela, que aconteceram em julho, quanto as do Mexico em junho, têm alta correlação com os resultados da pesquisa, mas a cobertura sobre o contexto da disputa americana apresenta alguns contrastes.
O ponto em comum é o reflexo de ambos os pleitos sobre ondas migratórias para os EUA, enquanto as diferenças ocorrem na lisura dos processos eleitorais de cada país – denúncias de fraude eleitoral na Venezuela e prevalência das instituições democráticas no México, com a vitória da primeira mulher, Claudia Sheinbaum, para a presidência do país.
Notícias de maior repercussão aparecem em 26 de fevereiro, quando o então candidato democrata Joe Biden e o republicano Donald Trump visitaram, no mesmo dia, áreas diferentes da fronteira dos EUA com o México, e em 29 de julho, quando o governo americano demonstrou preocupação com a legitimidade da eleição venezuelana.
O noticiário americano aponta Cuba como o país com maior número de citações negativas associadas à disputa pela Casa Branca (40% contra 27% na média dos 10 países monitorados no estudo). As mais frequentes referem-se a alertas de possível interferência do governo da ilha sobre a campanha presidencial e o pleito no estado da Florida, que abriga cerca de 1,5 milhão de cubanos e seus descendentes.
O Brasil não aparece de maneira tão negativa no estudo – matérias que associam o país a narrativas desse tipo ficam nove pontos abaixo da média. O apoio do presidente Lula à reeleição de Biden no início do ano foi uma das notícias de maior repercussão.
Assuntos como o papel das redes sociais brasileiras para gerar desinformação e riscos à integridade das instituições democráticas foram tratadas pelos jornalistas como alerta para a campanha norte americana. O tema se intensificou com o bloqueio do Twitter/X no Brasil e a resistência de Elon Musk em atender às exigências do Supremo Tribunal Federal (STF).
Na segmentação da cobertura por candidatos, Joe Biden está mais associado às menções dos países da América Latina no noticiário americano. O atual presidente, que abandonou a disputa pela reeleição em julho, aparece em 77% dos artigos que citam o México. Trump aparece em 29% e Kamala em 3%.
Entre os que mencionam a Venezuela, essas taxas correspondem a 68%, 29% e 3%, respectivamente. No caso do Brasil os percentuais são 62%, 29% e 9%. O único país mais associado a Trump é a Argentina, de Javier Milei (63% contra 37% a Biden).