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A China está redesenhando seu plano de voo para a Europa. Ao mesmo tempo uma Europa que viu os Estados Unidos darem as costas para a antiga parceria com o continente está esboçando rever seus conceitos em relação a China.
Alguns anos atrás os investimentos no continente ocorreram predominantemente pela aquisição de ativos diversos, principalmente no âmbito do setor de infraestrutura (portos como o de Pireu na Grécia e redes elétricas, por exemplo). Mas a aposta de Beijing no continente caminha cada vez mais para a implantação de fábricas próprias condizentes com a dinâmica de um cenário econômico e tecnológico de rápidas transformações.
A fabricante de baterias de lítio CALB acaba de se tornar o mais novo player chinês a chegar a Portugal. Ela atracou na pequena cidade de Sines, de 14 mil habitantes, situada no tranquilo Alentejo, acenando números que a região não está acostumada a visualizar: US$ 2,2 bilhões para a construção de uma fábrica e a projeção de criar 1.800 empregos.
Os chamados projetos “greenfield” (assim batizados por começarem da estaca zero) ganharam espaço em 2024 na agenda de aportes chineses no continente. Cresceram 21% no ano passado, atingindo 5,9 bilhões de euros. A rubrica aquisições e fusões também avançou: 114% em relação a 2023, chegando a 4,1 bilhões de euros.
No total, portanto, Beijing apostou um total de 10 bilhões de euros na Europa no ano passado, 47% mais do que em 2023. Mas as escolhas mudaram: recursos dez anos atrás alocados na compra de ativos consolidados estão sendo substituídos por projetos situados num patamar superior na cadeia de valor, e frequentemente em novas geografias.
Alemanha, França e Reino Unido perdem terreno na preferência dos chineses: de uma média de captação de 52% entre 2019 e 2023 as três maiores economias da Europa ficaram com apenas 20% dos recursos provenientes do gigante asiático em 2024. Em contrapartida, ganham espaço países considerados mais amigáveis do ponto de vista político. Além de uma antes ignorada Eslováquia, a Hungria é que mais avança: abocanhou 31% dos investimentos chineses na Europa em 2024, basicamente para projetos “greenfield”.
Governos em toda a Europa estão ansiosos para atrair as fábricas de última geração que criaram uma nova imagem para China, país que durante muito tempo foi visto como uma enorme usina de cópias de produtos ocidentais de qualidade limitada.
Em paralelo, as exportações chinesas para a Europa aceleraram este ano, aumentando quase 7% nos primeiros seis meses de 2025. O fato reforça a importância do mercado do continente para Pequim, e o fato é que os sinais de atrito e de conexão se alternam entre as duas geografias.
A presidente da Comissão Europeia, Ursula von der Leyen, tem incentivado uma caminhada de “redução de riscos” dos 27 países do bloco em relação ao avanço na dependência da China em alguns segmentos. Além disso, a mais nova rodada de sanções da UE imposta a Rússia acabou respingando em empresas e bancos chineses, já que a parceria Moscou-Pequim vai além da política e é também fortemente exercitada no âmbito econômico.
Apesar de um certo grau de precaução nas relações do continente com a China, algumas lideranças europeias ensaiam uma aproximação.
O primeiro-ministro espanhol socialista Pedro Sanchez defendeu o aprofundamento dos laços entre a UE e a China durante uma visita ao líder Xi Jinping em Pequim em abril. Situado no espectro político oposto ao de Sanchez, o primeiro-ministro húngaro Viktor Orbán elogiou a China ao visitar o mesmo Xi Jinping em julho do ano passado após seu país assumir a presidência rotativa da UE. Situados em termos políticos entre a esquerda de Sanchez e a direita de Órban, o presidente francês Emmanuel Macron, em recente conversa com o líder chinês destacou que “o investimento chinês é bem-vindo na França”, ressalvando que a competição entre as empresas de cada país deve ser “justa”.