Uma das maiores vantagens da gestão profissional das empresas é a impessoalidade no negócio. Mas essa é uma realidade pequena: muitas empresas, mesmo modernas e eficientes, se baseiam em estruturas familiares. Se por um lado isso fortifica identidade e interesses, em outros momentos pode se tornar um problema, principalmente em casos de conflitos.
Como além de sócios os partes interessados há vínculos afetivos e familiares, o embate pode se tornar mais difícil de ser resolvido. Para estes momentos, uma das alternativas que podem ser mais eficientes é a mediação.
O uso da mediação em empresas familiares foi o tema de um evento recente no Insper. Nele, especialistas mostraram exemplos, debateram usos e deram dicas deste modo de resolução de conflitos nestas companhias, onde tradicionalmente questões pessoas se misturam com os negócios.
“Conflito e empresas familiares são quase sinônimos. Mas os conflitos são importantes, desde que sua escala não aumente. Quando eles não existem, é sinal de que não há democracia e as relações são frias, distantes. Geralmente há uma bomba relógio pronta para explodir”, disse Fernanda Brasil, diretora da consultoria Banyan Global e professora da Plataforma de Empresas Familiares do Insper.
Nesse caso, o mediador assume um papel crucial, o de um observador externo confiável, capaz de trazer à tona não apenas questões profissionais, mas também diferenças pessoais que impactam na gestão do negócio. “Em toda empresa existe aquela pessoa que chega mais cedo, ou aquela que vende mais. No caso de uma organização familiar, essas diferenças atingem níveis de conflito que envolvem também questões emocionais”, afirmou Amedeo Papa, sócio fundador da Pracis, cujo propósito é apoiar famílias empresárias a se desenvolver e prosperar
O advogado Tadeu Navarro, especialista em Direito Tributário e Planejamento Sucessório e Patrimonial, narrou casos concretos, como de uma empresa familiar centenária, com dois núcleos diferentes no comando, onde havia uma tensão crescente.
“O que aconteceu é que os líderes dos dois núcleos queriam deixar de atuar no operacional da organização. Mas ninguém verbalizava esse desejo. Quando conseguimos que essa situação fosse apresentada às claras, com sinceridade, tudo se resolveu. A situação foi resolvida em oito meses, um tempo infinitamente menor do que se o conflito chegasse a vias judiciais”, disse o advogado.
Navarro, com toda a sua experiência, conta que a mediação tem um impacto positivo que vai além de evitar que conflitos sigam para os tribunais. “O que mais acontece não é a judicialização, é a procrastinação. Os gestores passam anos adiando encarar questões mais difíceis, muitas vezes esperam que a próxima geração as solucione. Isso só aumenta a dor da empresa, porque o silêncio acaba empurrando os problemas adiante.”
Para ele, o mediador não é só uma pessoa bem intencionada. Ele tem técnicas para isso, pois entende o contexto e usa recursos, faz conversas isoladas com quem precisa de mais privacidade. O advogado sugeriu também que é importante conhecer a cultura da família. “Algumas são mais formais, outras mais expansivas. Conhecer a cultura da família ajuda a trazer o mediador ou mediadora mais próximo, e ele acaba por conquistar a confiança de todos os envolvidos em menos tempo.”