Os conceitos ESG (ambiental, social e de governança, na sigla em inglês) são cada vez mais percebidos como fundamentais nas instituições financeiras, mas poucas deram passos concretos no último ano nesta direção. A conclusão é de uma pesquisa realizada pela Anbima (Associação Brasileira das Entidades dos Mercados Financeiro e de Capitais)
A pesquisa Retrato da Sustentabilidade no Mercado de Capitais foi realizada em duas fases. A primeira, qualitativa, liderada pela consultoria estratégica Na Rua, contou com 144 participantes para responderem exercícios sobre o tema e 41 para realização de entrevistas em profundidade. A segunda, quantitativa, contou com o apoio do Datafolha: foram 265 casas entrevistadas, sendo 209 gestoras de recursos.
Entre os resultados, a maioria enxerga o tema como relevante: aproximadamente 85% das casas classificam a importância do ESG com notas de 7 a 10 (sendo 10 a mais alta). Cerca de 44% deram notas 9 e 10 e 42% atribuíram notas 7 e 8. Apenas 3% das casas deram notas entre 0 e 4, indicando que veem pouca ou nenhuma importância nas questões ESG.
“Entretanto, foi identificada uma assimetria entre a atribuição de importância para a sustentabilidade e a adoção de medidas práticas. Muitas instituições que respondem de forma positiva às perguntas sobre percepção e importância do tema ESG dizem estar em processo de implementação ou ainda não ter implementado ações concretas”, afirmou a entidade.
O levantamento aponta que, enquanto 85% das gestoras de recursos e 90% dos bancos deram notas acima de 7 para a importância que veem na sustentabilidade, apenas 26% das gestoras e 43% dos bancos incluem esse tema em seus códigos de conduta. Apenas para 18% dos entrevistados a sustentabilidade é parte essencial do desenvolvimento da divulgação de produtos.
Entre as gestoras de recursos, entretanto, a prática seguiu o discurso e houve avanço na existência de política de investimento responsável. Segundo a pesquisa, 80% das casas afirmam ter uma política de investimento responsável ou um documento que formalize seu tratamento ao tema — se não estiver pronta, ao menos em desenvolvimento.
“Na edição de 2018 do levantamento da ANBIMA eram 68%. Um terço (35%) está em processo de desenvolvimento de um documento incorporando questões ESG. Entre as gestoras que não têm política nem estão desenvolvendo uma, destacam-se as assets de menor porte, com até R$ 100 milhões em ativos sob gestão”, afirma a Anbima.
Com relação à análise dos ativos sob as lentes ESG, 49% das gestoras avaliam entre 100% e 50% dos papéis. Apesar de ainda tímido, esse percentual é superior ao registrado na pesquisa da ANBIMA em 2018, quando era 27%.
Sobre a estrutura das assets, houve avanço no mercado: enquanto em 2018 apenas 34% das gestoras declarou ter alguma estrutura para tratar de ESG, agora 71% afirma ter alguma estrutura (exclusiva ou não) para tratar de sustentabilidade, mas com funcionários diretamente envolvidos ou treinados ou com comitê específico dedicado ao tema.
“A sustentabilidade não é um tema novo no mercado, no entanto, com a pandemia de covid-19, ganhou tração por conta da mudança da percepção de risco dos investidores. Esse movimento é positivo e, sem dúvida, ajudará a alavancar essa pauta”, afirma Carlos Takahashi, vice-presidente da ANBIMA e coordenador do Grupo Consultivo de Sustentabilidade da associação.