Apenas 4% das notícias sobre Brasil nos EUA foram positivas em 2022

Ciro Reis é CEO e Fundador da IC 28 de março de 2023
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A chamada mainstream media americana acompanhou com destaque a visita do presidente Luiz Inácio Lula da Silva ao seu colega Joe Biden em fevereiro último, uma abordagem que predominou do New York Times ao Wall Street Journal, da Bloomberg ao site especializado Politico, da CNN a rede pública de TV PBS. Mas se o evento dos dois líderes ganhou cobertura predominantemente positiva o mesmo não se pode dizer do olhar jornalístico americano sobre o Brasil no dia a dia.

De janeiro a dezembro de 2022 tiveram foco positivo apenas 4% dos 148,4 mil artigos, reportagens, notas e menções sobre o país publicados na imprensa dos Estados Unidos. Os principais temas focalizados foram economia, política, sociedade, meio ambiente e esportes.

Aqueles 4%, na verdade, repetem um padrão. O índice tem sido baixo ao longo dos anos: em 2021, do total de 120,9 mil textos publicados com informações relativas ao Brasil, apenas 5% eram positivos. Idênticos 5% foram registrados em 2020, a partir de um universo de 156,1 mil notícias sobre o país veiculados nos Estados Unidos.

Tradicionalmente a maior parte da cobertura é meramente informativa ou neutra: 78% em 2022; 62% em 2021; 62% também em 2020. As notícias negativas foram 18% do total em 2022, uma queda diante dos 33% de 2021 e 2020.

Mais de 40% das 120,9 mil notícias sobre o Brasil em 2022 foram distribuídas no último trimestre do ano, período da realização das eleições gerais e da Copa do Mundo de futebol.

Todos esses números estão na pesquisa I See Brazil, realizada trimestralmente pela Imagem Corporativa em parceria com o See Suite,  laboratório digital e de social media do Grady College of Journalism and Mass Communication da University of Georgia (EUA). Iniciado em 2010 esse trabalho periódico reflete claramente o crescimento dos desafios do país na ótica da imprensa americana, e mostra um olhar ainda mais crítico do que a média da cobertura da imprensa internacional sobre o país. Isso por que o índice I See Brazil ampliado, que monitora treze publicações líderes de nove importantes mercados nas Américas, Europa e Ásia, aponta número ligeiramente melhor: 9% de cobertura positiva sobre Brasil em 2022.

Uma visão em perspectiva ajuda a entender o contexto. Em 2010, o respeitado think tank Pew Research, de Washington, analisava o final do segundo mandato do presidente Luiz Inácio Lula da Silva a partir do bom momento pelo qual passava o país, e com base em pesquisa recém terminada da Princeton Survey Research Associates International, realizada presencialmente com mil brasileiros.

“À medida que os oito anos da presidência de Luiz Inácio Lula da Silva se aproximam do fim, os brasileiros oferecem avaliações amplamente positivas sobre a situação de seu país. Em um momento em que o público global está em sua maioria ressabiado com o andamento das coisas em seus países, metade dos brasileiros diz estar satisfeita com as condições nacionais e 62% diz que a economia de seu país está em boa forma”, relatava o Pew Research.

Sem surpresas. Afinal, aquele 2010 representava um momento de commodities em alta no mercado internacional favorável às exportações brasileiras. O nível de reservas cambiais subira a então inéditos US$ 288 bilhões, a dívida interna estava sob controle e o histórico incômodo representado pela dívida externa fora equacionado. Isso permitiu ao Brasil obter o grau de investimento junto às diferentes agências de risco internacionais. Esse quadro ampliou as perspectivas de investimentos e criação de empregos. O vento a favor incluia ainda a recente descoberta da camada do pré-sal e o direito de sediar tanto a Copa do Mundo de futebol em 2014 como os Jogos Olímpicos em 2016.

Um cenário desses, naturalmente, se refletia na visão jornalística e isso tornava positiva a maior parte da cobertura da impresa internacional sobre o país. Hoje, compreensivelmente, as notícias sobre o Brasil mundo afora refletem uma situação diferente onde convivem variáveis como a polarização política; perda do poder aquisitivo da população; esforço de retomada econômica; crescentes desafios no campo ambiental e da diplomacia.

Portanto, o ambiente nacional que foi se desenhando levou a uma cobertura da imprensa cada vez menos “thumbs up” e cada vez mais permeada pela percepção de “turnaround” necessário.

Ameaças concretas à democracia brasileira passaram de tema impensável poucos anos atrás a preocupação palpável nos tempos atuais. E agora são assunto permanente sob os holofotes dos jornalistas, que têm mais dúvidas e perguntas do que respostas.

O experiente jornalista americano Brian Winter, que trabalhou no Brasil e hoje dirige a Americas Quarterly (publicação do Conselho das Américas) comentou os eventos de 8 de janeiro no Brasil e as consequentes medidas tomadas pelo Supremo Tribunal Federal: “Talvez a história vá julgar se aquelas medidas foram necessárias; não há manual para desarmar esse tipo de ameaça à democracia. Mas não é por que o 6 de janeiro (invasão do Capitólio) e o 8 de janeiro foram similares que seus desdobramentos serão também”.

O Washington Post, ao registrar o clima amigável do encontro entre os presidentes de Brasil e dos Estados Unidos perguntou: “Depois de Trump e Bolsonaro, poderiam Biden e Lula ter seu bromance (termo em inglês para forte amizade e companheirismo entre dois homens)?”.

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