As recentes sabatinas individuais com candidatos em diferentes meios de comunicação e o debate de ontem, domingo, com seis postulantes à presidência da República na Band, mostram que a corrida eleitoral é território onde o longo prazo é quase um não-assunto.
A poucas semanas das eleições é justo que a discussão de temas sensíveis do dia a dia como inflação, insegurança alimentar, saúde e educação acabe ganhando destaque especial na busca de votos. Mas se, conforme dizem os candidatos em uníssono, o objetivo principal é construir um Brasil melhor, por que não colocar aqueles temas numa perspectiva mais ampla e analítica capaz de esboçar de forma mais nítida uma ideia de país para 2025, 2030 e mesmo para as próximas décadas?
É isso que outros países e blocos estão fazendo.
Nos Estados Unidos foram aprovados nos últimos meses pacotes bilionários (o último deles de US$ 437 bilhões) para saúde, meio ambiente, infraestrutura, eficiência energética e produção de semicondutores, por exemplo. Objetivo: garantir um novo patamar para o país nas próximas décadas.
A União Europeia tem como meta reduzir a emissão de gases do efeito estufa em 55% até 2030, chegando a 2050 com emissão zero. Para isso o desenvolvimento de novas tecnologias e soluções já começa a avançar, contando com investimentos de um trilhão de euros.
Já o projeto “Austrália 2030: Prosperidade por meio da Inovação” busca uma economia ainda mais competitiva e melhores padrões para sua sociedade a partir da próxima década. Enquanto isso a China continua avançando em seu projeto “One Belt, One Road”, a um custo de US$ 5 trilhões em investimentos até 2049: portos, rodovias, ferrovias e novas oportunidades de negócios em 65 países da Ásia, Europa e África já estão se tornando realidade e ampliando o peso econômico e geopolítico de Pequim na esfera global.
Ao mesmo tempo, a África também faz sua aposta no futuro. A Agenda 2063 foi criada no âmbito da União Africana (organização que reúne todos os 55 países do continente) para focar em diferentes frentes e promover o desenvolvimento social e econômico inclusivo; a integração continental e regional; gestão democrática; paz e segurança. Com isso pretende-se reposicionar o continente e torná-lo “um ator dominante na arena global” segundo a própria União Africana.
O Brasil não pode abrir mão de visões de longo prazo devidamente estruturadas se quiser alcançar e manter protagonismo em um cenário global cada vez mais sensível, competitivo e desafiador.
O ex-ministro Pedro Malan certa vez definiu, bem humorado, o hábito nacional de analisar cenários, planejar e tomar decisões de forma errática: ”No Brasil, até o passado é incerto”.