Se até mesmo a academia tem dedicado dezenas de pesquisas científicas, se já há uma bibliografia internacional vasta e muitos mestrandos e doutorandos debruçados sobre o tema, é porque ele atingiu uma maturidade tal que já não é possível ignorá-lo ou considerá-lo apenas uma future trend.
A influência digital é objeto de estudo há pelo menos uma década e se hoje o termo ‘blogueirinha’ ganhou novos matizes (quer dizer superexposição de alguém que posta muito sobre uma mesma temática) é porque realmente estamos em um novo patamar do trabalho com influenciadores digitais.
Issaf Karhawi, jornalista graduada pela Universidade Federal do Mato Grosso do Sul, mestre e doutora em Ciências da Comunicação pela Universidade de São Paulo e membro do Com+, que é um grupo de estudos muito produtivo em torno das novas formas de PR, disse, em entrevista à Faculdade Cásper Líbero, que os influenciadores digitais ganharam força ao tomarem o lugar dos jornalistas no momento em que a transformação digital galopou e se traduziu em redes sociais poderosas, capazes de atrair milhões de internautas. O que ela quis dizer – e concordo totalmente – é que os jornalistas, sufocados em suas múltiplas apurações, vítimas de equipes juniorizadas e reduzidas e a má gestão dos grandes grupos de comunicação, deixaram de ocupar um espaço que naturalmente era deles, que era de informar, gerar e protagonizar debates e, por fim, influenciar.
Assim, com jornalistas e influenciadores apartados, coube às agências de PR aprender rapidamente como melhor tirar proveito de cada um deles na estratégia de comunicação do cliente. Não é mais uma escolha para a agência tratar esses stakeholders da mesma maneira ou privilegiar um em detrimento do outro. É por isso que quando uma empresa opta por contratar “somente o trabalho de imprensa”, corre-se o risco de uma estratégia incompleta e menos efetiva.
Recentemente finalizamos um trabalho vencedor que envolveu relacionamento com jornalistas, influenciadores orgânicos e o ambiente legislativo. E traçamos uma etapa adicional de influenciadores pagos para sustentar a mensagem. Cabia a nós gerar visibilidade em torno de uma causa animal pouco difundida no País, mas que já vinha sendo trabalhada especialmente na Europa: a luta contra o abate predatório de jumentos. O cliente, o The Donkey Sanctuary, encomendou a criação e a execução de uma estratégia ampla que culminasse na sensibilização de deputados e senadores em torno do tema. E fizemos isso por meio de uma petição online e um trabalho de awareness e posicionamento que envolveu jornalistas de todo o País e influenciadores selecionados cuidadosamente e que tivessem relação, não somente com a causa animal, mas com aspectos da cultura popular nordestina. Para os jornalistas, destacamos fatos e dados. E para os influenciadores, reforçamos maus tratos animais, a ilegalidade dos abatedouros e o apego à cultura brasileira. Essa composição de ações levou a um volume superior a 46 mil assinaturas em uma petição que em breve será levado ao Poder Legislativo.
O mesmo propósito de informar e influenciar a opinião pública de maneira simultânea usando jornalistas e influenciadores e, então, potencializar os resultados de uma estratégia, torna-se ainda mais evidente nos temas de Saúde. Com o impedimento de falar abertamente sobre medicamentos ou pesquisas em desenvolvimento, a indústria farmacêutica lança mão de criativos storytellings que chegam mais rapidamente no coração do público. Essa foi a estratégia de nosso Jatobá PR 2021, que partiu de um livro-reportagem do jornalista Chico Felitti para trazer à luz as dificuldades de quem dermatite atópica. O lançamento do livro desdobrou para uma série de reportagens, distribuição do conteúdo entre influenciadores e ainda uma suíte inteiramente dedicada às crianças, com a criação de bonecas de pano marcadas com os sinais da doença. O livro e as bonecas chegaram a celebridades, pais e mães influenciadores.
São estratégias combinadas como essas que garantem assertividade à comunicação. Já não se trata de escolher esta ou aquela, mídia tradicional ou influência digital. São pares que caminham juntos para uma mesma direção.