Cinco grandes discussões sobre o futuro, a tecnologia e a sociedade no SXSW 2024

Danilo Valeta, é diretor de atendimento especializado no setor tech e nas áreas de inovação e estratégias digitais da Imagem Corporativa 22 de março de 2024
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O South by Southwest é um evento, por natureza, mutante. Começou como um festival de música de vanguarda, embrenhou-se pelo cinema, depois pela arte interativa e, nos últimos dez anos, acabou se firmando como um dos maiores eventos de inovação do planeta. Em 2024, o evento teve sua maior edição de todos os tempos, com mais de 350 mil participantes e mais de 450 painéis divididos em 25 áreas temáticas. Seu formato meio anárquico, onde o conteúdo é curado pelos próprios participantes, faz com que o evento seja impossível de se resumir. Ainda assim, algumas discussões sempre se sobressaem, e este ano, não foi diferente.  Confira cinco grandes discussões pertinentes que aconteceram na capital do Texas agora em março:

A Inteligência artificial e o superciclo tecnológico

Para a surpresa de absolutamente ninguém, as discussões sobre inteligência artificial foram quase que onipresentes durante o evento. A futurista e professora da Universidade de Nova York, Amy Webb, lançou no evento a última edição do seu relatório de tendências, que colocou a IA como o centro de um novo “superciclo tecnológico”, ao lado de automação e biotecnologia. Essas três tecnologias servirão de base para um salto acelerado de inovação – ou seja, tudo vai mudar, e vai mudar mais rápido. E quem não pular no bonde cedo, pode ficar de fora – pois não haverá tempo para correr atrás do prejuízo. Webb foi seguida pelo antigo Chefe de Tecnologia do Google, Ray Kurzweil, que sempre traz ao festival suas visões peculiares sobre o futuro. Para Kurzweil, esse superciclo tecnológico termina na (quase) imortalidade humana – com pessoas vivendo até 500 anos antes de fazer backup das suas memórias em um computador. O prazo para isso se tornar possível? Em exatos 25 anos, em 2049.

A economia “underground”

Trilhas inteiras do evento se dedicavam aos “mercados underground”, ou seja, setores da economia que não são regulados, ou que vivem em um limbo regulatório. A maior dessas discussões se deu ao redor do uso terapêutico de substâncias psicoativas – um movimento que data dos anos 1960, mas que passou décadas inexplorado por conta da dificuldade de se conseguir verba para pesquisa e a impossibilidade de monetizar qualquer descoberta. Nos últimos anos, vários países desenvolvidos afrouxaram suas regulamentações, e um mercado embrionário já começa a se formar ao redor do uso de substâncias como a cannabis, a Metilenodioximetanfetamina (também conhecida como MDMA ou ecstasy) e o ácido lisérgico, entre muitas outras. O assunto foi tema de mais de 30 painéis recheados de gente grande – de pesquisadores renomados a empreendedores de peso. A lição que ficou: Muita gente muito grande está pronta para colocar muito dinheiro para fazer o setor avançar de forma responsável – se os governos abrirem a avenida para o cortejo passar.

Diversidade e inclusão, mas só um pouquinho

O tema da diversidade já é tradicional no evento, desde quando era um pequeno festival de arte marginal. Há até uma grande festa de temática queer – que começou há mais de dez anos como um encontro informal e acabou se tornando uma das grandes atrações do evento. Mas este ano, as coisas foram um pouco diferentes: o número de painéis dedicados à temática LGBT+ despencou: foram 30% menos painéis na comparação com o ano passado, apesar deste ser o primeiro ano em que as atrações dentro da temática foram organizadas em um mesmo track. Alguns temas, como direitos dos transgêneros, simplesmente desapareceram por completo. A influencer trans Dylan Mulvaney – que fez parte de uma polêmica envolvendo a marca de cerveja Budweiser no ano passado – chamou a atenção para a estranha ausência de um tema que sempre foi recorrente no evento. Já Kate Wolff, CEO da agência de marketing especializada na comunidade Queer Lupine Creatives, declarou que vê um “inverno de representatividade” no apoio de grandes marcas a eventos e personalidades LGBT+, citando a própria confusão com Dylan e a Budweiser como eventos que “minam a confiança” dos líderes de marketing em abraçar a causa. Para Wolff, o mesmo aconteceu com o SXSW, e o festival simplesmente evitou temas que pudessem atrair a ira dos conservadores.

A arte da guerra

Causou estranheza para muita gente a presença enorme de um patrocinador que até então participava do evento de forma mais tímida: as forças armadas americanas. O que o maior exército do planeta está fazendo no que até outro dia era um festival de arte interativa independente organizado por um bando de hippies? Ora, dadas as atuais tensões geopolíticas e o crescente papel de combatentes autônomos – drones e robôs – alguém poderia alegar que nenhuma discussão sobre o futuro será completa sem uma discussão sobre a guerra. Ainda assim, mais de 80 panelistas e artistas cancelaram de última hora sua participação por conta dos patrocinadores ligados ao complexo militar americano. Além de protestos diários contra o auxílio militar que os EUA prestam para Israel no atual conflito com a Palestina. A algazarra levou o governador do Texas, o republicano Greg Abbott, a criticar abertamente os artistas que participaram do boicote nas redes sociais. “Aqui no Texas temos orgulho das nossas forças armadas. Se você não gosta, não venha para cá”.

É do Brasil

Tudo indica que este foi o ano com o maior número de participantes brasileiros no evento, com mais de 3.500 profissionais das mais diversas áreas. Foi também o ano em que grandes patrocinadores nacionais deram as caras com força: o Itaú, que patrocinou o evento pelo segundo ano consecutivo, ofereceu tradução para o português de mais de 100 palestras no canal oficial do SXSW no YouTube. Outro patrocinador de peso foi o Governo do Estado de São Paulo, que montou uma casa de 1.000 metros quadrados com o objetivo de atrair investidores, startups e empresas de tecnologia para o estado. A Casa São Paulo abrigou eventos em cinco temas: tecnologia e inovação, impacto social, economia criativa, jogos e audiovisual, e artes e festivais. A InvestSP, agência de promoção de investimentos do estado, levou 10 empresas Paulistas para o evento com a expectativa de gerar até R$ 50 milhões em oportunidades de negócios. Ainda não sabemos se deu certo, mas é um movimento que pode atrair outros estados ou entidades federais nas próximas edições.

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