Eleições 2024 têm potencial para evolução ESG

Alessandro Janoni é diretor de pesquisas e tendências na Imagem Corporativa 22 de junho de 2023
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Mapeamento de demandas locais gera sensação de pertencimento entre stakeholders

Problemas no transporte público abrem o noticiário local da TV às 6h da manhã. Repórter traz o desespero dos paulistanos no deslocamento ao trabalho. Questionada pelo jornalista sobre o atraso, uma entrevistada, apreensiva, dá o nome da empresa onde trabalha e aproveita para mandar um recado – pedir para que o chefe não lhe dê uma advertência:

– A gente fala, eles não acreditam! – diz a mulher, preocupada.

Faltou combinar com os stakeholders? Ouvi-los é um primeiro passo. Quando a matriz de materialidade ESG, de alinhamento dos valores socioambientais da empresa encontra o mundo real, a sobreposição entre as esferas pública e privada torna-se evidente. Demandas de funcionários, colaboradores e comunidade assumem peso importante na equação.

No levantamento que a ONU realiza a cada quatro anos para monitorar a evolução de ações para o desenvolvimento sustentável da agenda 2030, o relatório preliminar de 2023 revela retrocessos especialmente nas variáveis sociais e comunitárias apesar de alguns avanços em setores ambientais e tecnológicos. Pandemia, guerra e instabilidade econômica explicam em parte o fenômeno.

Para algumas metas, como a de número 11, que trata das cidades sustentáveis, não há dados suficientes para análise segura e quando eles existem são desanimadores – há 1 bilhão de pessoas morando em favelas e 51,6% da população urbana sem acesso à transporte público, por exemplo.

Entre os pontos de entrada para a economia sustentável e fatores que podem acelerar o processo, o relatório lista a interatividade entre agentes públicos, comunidades e corporações em temas como bem-estar da população, economia sustentável, nutrição saudável, energia limpa e desenvolvimento urbano.

O cenário ilustra o terreno fértil que períodos eleitorais produzem para o debate de pautas ESG.  Não se trata apenas de identificar este ou aquele candidato mais alinhado ao espírito do tempo, mas ter o diagnóstico de percepções e necessidades do ambiente em que as empresas atuam para subsidiar propostas e políticas públicas.

Quando as eleições são municipais, como as que acontecem no Brasil no próximo ano, a oportunidade se eleva – intervenções que aderem às necessidades locais tendem à maior efetividade sobre o dia a dia do cidadão e da comunidade.

Experiências de democracia participativa no país já demonstraram a força desse tipo de inciativa, mas perderam apelo por falta de representatividade e aparelhamento político.

Para anular o viés dessas variáveis sobre o diagnóstico das demandas, pesquisas com amostras representativas dos moradores e comunidades de micro e mesorregiões de municípios e estados são ferramentas para o mapeamento dos pontos de entrada e vetores de impacto para políticas ESG das empresas.

Isso porque dados secundários nem sempre trazem o necessário. Mantendo-se no tema do transporte público, por exemplo, as pesquisas de Origem e Destino do metrô de São Paulo, que segmenta a região metropolitana do estado em 517 microrregiões está defasada (a última é de 2017, anterior à pandemia portanto) e não explora a satisfação do usuário por alternativas de mobilidade em cada uma delas.

 517 zonas da pesquisa OD do metrô de SP

O Censo 2022, cujos primeiros resultados o IBGE promete para a próxima semana, avança um pouco sobre temas correlatos em seu questionário ampliado, mas também não consegue esgotar a pauta – não há hierarquização de demandas da opinião pública por setores censitários, por exemplo.

O diagnóstico desses valores e problemas locais das comunidades onde as empresas atuam alimenta um dos mais importantes vetores de engajamento social entre stakeholders – a sensação de pertencimento a um grupo com identidade, com causas e objetivos.

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