Empresas como promotoras da cidadania

William Penna é head de tendências e novos negócios na IC 12 de setembro de 2022
IC

Uma temática recorrente a cada dois anos assombra o universo da comunicação corporativa e reforça o olhar atento e cuidadoso com a reputação das empresas ante o cenário político – sendo ele regional ou nacional – já que o desenrolar do processo eleitoral tem impacto imediato e de longo prazo também no ambiente de negócios. E se esse processo é tão importante, quais motivos levam o distanciamento do ambiente empresarial, ou da comunicação, em não falar sobre o assunto? 

Ao longo dos últimos anos, percebemos o envolvimento do empresariado nesse universo, seja com a intenção de candidatura, ou mesmo se juntando para dar apoio ou não a projetos políticos que acreditam ser mais favoráveis para impulsionar uma transformação no País. E a reação do público ou do cliente é imediata e reflete a atuação dessa liderança com efeitos que arranham ou, até mesmo, impactam diretamente a reputação da empresa e/ou o resultado dos negócios. 

Mas há uma linha ainda muito pouco explorada, de dar visibilidade à cidadania – uma pauta cara para agendas ESG. Aliás, um levantamento da Fundação Tide Setubal e o Instituto Sivis nos indica que há uma provável consciência, já que 81,5% dos empresários concordam totalmente ou em parte que eles são responsáveis por trabalhar pela solução dos problemas sociais no Brasil. Então a resposta está justamente na atuação no processo cívico. Em outras palavras, atuar para que o exercício dos direitos e deveres civis, políticos e sociais estabelecidos na Constituição de um país possam ser respeitados, garantidos e exercidos pelos cidadãos. A pesquisa ainda mostra que 98% dos empresários entrevistados avaliam que é importante que haja eleições livres e justas no Brasil para que eles e seus negócios prosperem. 

Nas eleições de 2022, teremos pouco mais de 156 milhões de brasileiros aptos a exercer seu papel cidadão, o maior eleitorado cadastrado da história. De acordo com o TSE, há um aumento de mais de 6% no número de eleitores em comparação ao pleito eleitoral de 2018. Público este que pode estar favorável a receber informação do processo eleitoral, de candidatos e das empresas. Na contramão, também estão suscetíveis ao impacto de fake news, desinformação e os problemas de formação de uma consciência cidadã. 

Os meios de comunicação, grandes veículos e agências de notícias se mobilizam para dar suporte ao eleitor com ferramentas de checagem de informação e oferecendo dados e fatos confiáveis. O G1, por exemplo, traz um site específico para acompanhamento de realização de promessas de candidatos eleitos, com o papel de informar e dar clareza para o que de fato saiu da parte planejada e foi executada. As redes sociais, coordenadas com o TSE, têm feito um trabalho regular para retirar ou derrubar conteúdos falsos. O próprio tribunal desenvolveu ferramenta com o WhatsApp para empoderar a decisão do eleitor brasileiro. 

E o desafio não se limita a apenas ao ataque direto ou indireto a uma candidatura. A ameaça recorre sobre o processo eleitoral e a democracia, a ponto de virar pauta para as pesquisas de opinião. O Data Folha, por exemplo, divulgou esse ano que a democracia é a melhor forma de governo para 75% das pessoas entrevistas. O DataSenado produz a pesquisa Panorama Político e, na edição deste ano, aponta que 67% consideram a democracia a melhor forma de governo. Esse levantamento ainda aponta a TV como o principal meio de informação sobre política (37%), mas seguida de perto pelas redes sociais (24%). 

Há um ponto curioso sobre as pesquisas produzidas, como a encomendada pela organização Renova BR, que mostra que os brasileiros continuam desejando uma renovação. São 86% dos respondentes, 8 em cada 10 pessoas, que “achariam bom” se existisse uma “alta renovação” de nomes eleitos neste ano. O curioso é que 2/3 deles não se recordam em quem votaram para deputado federal. Isso mostra que há um espaço a ser explorado, principalmente educacional, de voto consciente e, claro, do acompanhamento das atividades políticas. 

Antes de entrarmos no que nos move em defesa de uma maior participação das empresas no processo de cidadania, é preciso lembrar que os eleitores ainda têm preocupações sobre o futuro e itens como saúde e educação, de acordo com o mesmo levantamento da Renova BR, liderando com 83% das respostas. A economia aparece com 32% e infraestrutura com 11%. 

As empresas poderiam liderar um discurso a favor da cidadania – conscientizando o público interno ou externo -, e em momentos de eleição, recordar sobre o papel de cada um no processo eleitoral. Aqui podemos incluir desde os conceitos simples que vão da instrução sobre fonte confiáveis de informação aproveitando as ferramentas disponíveis e em diversos meios, a até entender as responsabilidades e a importância do ato do voto.  

O objetivo deveria ser ir além de defender um candidato ou uma posição política, como temos visto algumas lideranças. O foco é empoderar e influenciar sobre a importância do respeito da diversidade de opinião, a convergência de ideias para um ambiente de transformação e melhorias para sociedade, em que o coletivo é mais importante que o indivíduo. Grandes companhias podem dar suporte para as iniciativas existentes, seja ao endossar ou garantir a viabilidade financeira de projetos, tal como fizeram ao aderir às cartas em apoio à democracia.  

Além disso, há espaço para liderar discursos com campanhas, treinamentos e capacitação das lideranças, um processo de sensibilização dos seus públicos-alvo, assim como faz ao distribuir suas políticas internas, com fatores imprescindíveis para fortalecimento da cultura, engajamento e da imagem. Pois no fim, estamos todos torcendo para que os negócios e o Brasil e seu povo prosperem. 

 

 

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