Governança e transparência: o caminho para relatórios ESG de alto impacto

Sergio Maryama, diretor da Walk4Good 25 de agosto de 2023
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Os relatórios de sustentabilidade comunicam compromissos e desempenho das empresas em questões ambientais, sociais e de governança — temas compreendidos dentro da sigla ESG, em inglês. Um estudo recente da PwC, publicado em 2023, revelou que 77% dos investidores globais estão mais propensos a investir em empresas que divulgam informações ESG de forma transparente e confiável. O estudo também revelou que 67% dos investidores acreditam que as informações ESG são importantes para tomar decisões de investimento.

Publicados anualmente, os relatórios atendem a expectativas crescentes de stakeholders, demonstrando práticas corporativas responsáveis. Outra pesquisa recente, publicada pela Universidade de Cambridge em 2023, revelou que as empresas que divulgam informações ESG de forma completa e consistente têm um desempenho financeiro superior às que não divulgam essas informações. O ESG nos relatórios relaciona-se à capacidade de criar valor, gerenciar riscos e construir relacionamentos.

O aprimoramento desses relatórios reflete demandas da sociedade por práticas empresariais éticas e sustentáveis. Além disso, há setores – como o de seguros – que passarão a exigir a divulgação de relatórios a partir de 2025. A Circular 666 da Susep (Superintendência de Seguros Privados), publicada em 2022, estabelece requisitos de sustentabilidade a serem observados pelas sociedades seguradoras, entidades abertas de previdência complementar (EAPCs), sociedades de capitalização e resseguradores locais.

A seguir, destacam-se as principais mudanças sobre normas para relatórios.

Normas referentes aos Relatórios de Sustentabilidade

Nas últimas décadas, observou-se uma adoção crescente de normas e diretrizes para padronizar os relatórios de sustentabilidade, como as diretrizes da GRI, os padrões do SASB e do International Integrated Reporting Council (IIRC). Essas normas tornam os relatórios mais consistentes, comparáveis e úteis para os stakeholders, enquanto tecnologias como inteligência artificial e relatórios digitais aprimoram análise de dados e engajamento.

Recentemente, o International Sustainability Standards Board (ISSB) publicou normas que conferem maior comparabilidade às divulgações de sustentabilidade para investidores. Na União Europeia, a Corporate Sustainability Reporting Directive (CSRD) tornará obrigatórias divulgações ESG sob uma perspectiva de dupla materialidade — considerando tanto o impacto que as questões de sustentabilidade podem ter sobre as finanças da empresa (materialidade financeira) quanto o impacto que a empresa pode ter sobre essas questões (materialidade ambiental ou social).

Integração ESG nos Relatórios Financeiros

A integração de informações ESG nas demonstrações financeiras tradicionais se tornou uma prática relevante entre as empresas comprometidas com a sustentabilidade. Isso fornece uma visão mais completa das operações, riscos e valor da empresa sob uma perspectiva ESG.

Divulgação de Riscos Climáticos e Ambientais

Outro aspecto importante é a divulgação transparente de riscos climáticos e ambientais nos relatórios de sustentabilidade, atendendo às expectativas crescentes de investidores e reguladores. Essas divulgações podem seguir as recomendações do Task Force on Climate-related Financial Disclosures (TCFD).

Envolvimento das Partes Interessadas

O engajamento genuíno com as partes interessadas no processo de produção do relatório é essencial para garantir que o documento seja abrangente, preciso e reflexivo das práticas de sustentabilidade da empresa, destacando o que seus públicos desejam saber.

Tecnologia e Relatórios Digitais

As novas tecnologias também estão sendo incorporadas para aprimorar os relatórios de sustentabilidade. A inteligência artificial pode melhorar a análise de dados e identificação de tendências. Os relatórios digitais interativos proporcionam uma experiência mais acessível e envolvente, fortalecendo o relacionamento entre empresas e stakeholders.

Confira dicas para a geração de relatórios ESG de alto impacto:

  1. Engajamento da alta administração: a liderança da empresa deve demonstrar compromisso com a transparência e a governança, integrando princípios ESG na tomada de decisões estratégicas.
  2. Promoção do envolvimento dos stakeholders: realize consultas regulares com stakeholders para entender suas expectativas e necessidades, incorporando suas perspectivas nos relatórios.
  3. Contexto: analise e considere o contexto de riscos globais e de sustentabilidade.
  4. Dupla materialidade: identifique os principais impactos recebidos e causados pela organização.
  5. Modelo de negócios: defina e apresente para facilitar o entendimento sobre propósito, estratégia e crescimento da Empresa.
  6. Definir metas e indicadores claros: estabeleça metas mensuráveis de ESG e identifique os indicadores relevantes para medir o progresso.
  7. Incentivo à inovação sustentável: promova a pesquisa e o desenvolvimento de soluções que abordem desafios sociais e ambientais, alinhando-os com os valores da empresa.
  8. Ecossistema: apresente e descreva as parcerias relevantes que darão escala às soluções para os desafios da Empresa e da sociedade.
  9. Mensuração dos impactos sociais: além de métricas ambientais, mensure os impactos sociais positivos da empresa, como geração de empregos, capacitação da comunidade e diversidade no local de trabalho.
  10. Comunicação clara e abrangente: utilize linguagem clara e objetiva em seus relatórios para garantir que as informações sejam compreendidas por diferentes públicos. Forneça contextos relevantes e exemplos tangíveis tempestivamente.

Em um mundo cada vez mais consciente das questões ESG, os relatórios de sustentabilidade tornaram-se uma ferramenta vital para comunicar o compromisso e o desempenho das empresas nessas áreas, devendo ser utilizados como uma verdadeira ferramenta de gestão. A adoção de normas rigorosas, a integração de tecnologias avançadas e a ênfase na transparência e na dupla materialidade refletem uma evolução significativa na forma como as empresas abordam a sustentabilidade. Essas práticas não apenas fortalecem a confiança dos investidores e stakeholders, mas também posicionam as empresas na vanguarda da responsabilidade corporativa e da inovação sustentável.

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