O cartunista Jaguar, morto no último fim de semana, era um dos últimos nomes de referência do semanário O Pasquim ainda vivos. A publicação, uma legítima representante do que passou a ser chamado de “imprensa nanica” ou “imprensa alternativa”, circulou entre junho de 1969 e novembro de 1991 e chegou a alcançar impressionantes 200 mil exemplares semanais. Seu time de profissionais promovia a ideia debochada de uma “República de Ipanema”, território boêmio, intelectual e hedonista do qual se mostrava verdadeira linha de frente.
O Pasquim tinha como marca o humor, a irreverência e uma boa dose de contracultura. Além de entrevistas incomparáveis registradas em um rudimentar gravador portátil em torno do qual se revezavam perguntadores afiados e provocativos: Henfil (1944-1988); Tarso de Castro (1941-1991); Paulo Francis (1930-1997); Millôr Fernandes (1923-2012); Ivan Lessa (1935-2012); Sérgio Cabral (1937-2024); Ziraldo (1932-2024); além do próprio Jaguar e Sérgio Augusto, entre outros.
Ao longo de mais de 22 anos de trajetória, não faltaram a censura de textos e ilustrações por parte do governo militar, além de prisões em sua redação (impedido de noticiar o fato, o seminário decidiu informar aos leitores que seus jornalistas estavam afastados devido a uma “gripe”). Nem desfalcado o Pasquim deixou de circular: voluntários que iam de Chico Buarque de Hollanda a Chico Anisio, passando por Otto Lara Rezende e Vinicius de Moraes providenciaram textos para substituir a produção dos titulares enquanto eles estiveram detidos.
Jaguar, membro daquela tribo de uma Ipanema ainda mais icônica do que a atual, era conhecido por tiradas únicas, tais como: “Intelectual não vai a praia. Intelectual bebe”; “Calculo que ao longo da vida já devo ter bebido o equivalente a várias piscinas de cerveja”.
Em certo momento ele definiu como “BIP” seu estilo de vida. Ou a “Busca Insaciável do Prazer”.
Sérgio Augusto, pasquinense de primeira hora e ainda ativo escriba na área cultural, assim definiu, seis anos atrás, o jornal e seus personagens centrais. “O Pasquim foi sobretudo Tarso de Castro e Jaguar. Tarso foi seu criador e seu dínamo, embora por pouco tempo: um ano e oito meses ou 84 números; e Jaguar, seu padrinho (emplacou o nome Pasquim) e obstinado animador, seu “último moicano”, o “almirante batavo” que só abandonou o navio quando ele foi a pique, em novembro de 1991, com o número 1.072 gravado no casco”.
O Pasquim encarnou plenamente aquilo que Millôr Fernandes definia como a missão de qualquer publicação: “Imprensa é oposição. O resto é armazém de secos e molhados”.
Evoé, Jaguar. Evoé, Pasquim.