A ilustração é de Nick Lowndes
Nos oito anos em que chefiou o Ministério da Fazenda, nos dois mandatos do ex-presidente Fernando Henrique Cardoso, entre 1995 e 2002, o economista Pedro Malan foi acompanhado com um quase enfado por parte dos jornalistas encarregados da cobertura do governo federal.
A razão: com o Plano Real já consolidado e regras bem estabelecidas no ambiente macroeconômico os seus discursos, entrevistas e apresentações públicas eram marcados pela ênfase na lógica das decisões já tomadas e nos benefícios dela decorrentes. Além disso, naquelas ocasiões sempre ficava clara a sinalização para a opinião pública e os agentes econômicos de que não se deveria esperar daquele governo anúncios mirabolantes ou ideias surpreendentemente disruptivas na área econômica.
Em outras palavras, a mensagem era de haveria sempre uma garantia de previsibilidade, e que esta seria sempre um pilar fundamental para a manutenção da confiança na gestão federal.
A preocupação permanente de ater-se a uma abordagem inteligentemente repetitiva trouxe os frutos pretendidos por Malan. Sua comunicação quase monocórdia evitou sobressaltos e a necessidade de explicações urgentes para ações impetuosas, que nunca ocorreram.
O então ministro da Fazenda sempre fez questão de enfatizar de que o Brasil não seria surpreendido por decisões costuradas silenciosamente nas hostes governamentais, o que significava na prática o rompimento de uma tradição criada em anos anteriores nos governos José Sarney e Fernando Collor de Mello. Estes abençoaram iniciativas como o Plano Cruzado, Plano Cruzado II, Plano Bresser, Plano Verão e Plano Collor, entre outros soluços macro e microeconômicos.
Tudo isso para dizer que a área econômica do governo Lula voltou a trafegar por sinuosos e traiçoeiros caminhos e atalhos no campo da comunicação, causando surpresas e desconfortos sem que esteja plenamente preparado para enfrentar reações e resistências.
Em janeiro desse ano Brasília pretendia anunciar o início da fiscalização das operações por Pix acima de R$ 5 mil entre pessoas físicas. Boatos e fake News multiplicaram a falsa informação de que o governo estaria, isto sim, iniciando a taxação das operações por Pix. O governo teve enorme dor de cabeça para desmentir a desinformação e, sem uma boa lição de casa na modelagem do anúncio da medida original, preferiu recuar e deixar o dito pelo não dito.
E o que prevaleceu, para uma parcela da população brasileira, foi que a visão de que o governo teria recuado da taxação, e não da fiscalização do Pix.
Esta semana surgiu novo desafio na pasta do ministro Fernando Haddad: fazer a gestão do explosivo tema do aumento do IOF, decisão que surpreendeu até mesmo integrantes do governo e que passou a ser imediatamente bombardeada a partir de várias direções.
Mais uma vez o que se viu foi um processo desengonçado para assunto relevante e complexo.