Imagem: Shutterstock
A União Europeia piscou primeiro.
Esta é a percepção generalizada em relação ao acordo comercial entre Washington e Bruxelas anunciado no último domingo. O acordo prevê tarifas de 15% para exportações europeias para os Estados Unidos, além de promessa do bloco de fazer investimentos em território americano e compras de produtos e soluções made in USA nos setores de energia e defesa, uma conta que vai facilmente superar o estratosférico nível de 1 trilhão de dólares.
Pouco ecoou na Europa a justificativa da presidente da Comissão Europeia, Ursula van der Leyer, de que o acordo “cria certezas em tempos incertos” e produz “estabilidade e previsibilidade para cidadãos e empresas em ambos os lados do Atlântico”.
Para o Brasil o acordo gera inquietações em duas direções.
Em primeiro lugar o cenário mostra que diante de uma força econômica poderosa como a União Europeia (Produto Interno Bruto de US$ 19,423 trilhões) o governo de Donald Trump se mostrou inflexível. Assim, parece pouco provável uma mudança de comportamento diante de um Brasil de economia bem menos relevante (PIB de US$ 2,179 trilhões) e cuja atuação nos BRICS é vista com antipatia por Washington, que vê naquele grupo uma possível ameaça ao domínio do dólar nas transações do comércio global.
Por isso, ainda que o governo americano concedesse aos produtos brasileiros exportados para os Estados Unidos alguma redução na tarifa de 50% prevista para vigorar em 1º. de agosto, ou mesmo seu adiamento, não é razoável esperar por uma efetiva distensão nas relações bilaterais de negócios (ainda que, como se sabe, o Brasil seja caso pouco comum de país com déficit na balança comercial com os EUA). Vale lembrar que fatores políticos, como a insatisfação de Donald Trump em relação ao processo contra o ex-presidente Jair Bolsonaro no Supremo Tribunal Federal (STF) também jogam contra qualquer eventual gesto de boa vontade.
Outra inquietação vem do enfraquecimento de Ursula van der Leyen no ambiente europeu depois de um acordo com Washington que entregou muito mais do que recebeu nas relações de comércio. Isso porque ela foi figura chave no patrocínio do acordo Mercosul-UE, que assinou em nome da Comissão que ela lidera mas que ainda precisa ser apreciado e aprovado no Conselho Europeu e no Parlamento Europeu.
E se já havia nichos de insatisfação com os termos inicialmente desenhados na parceria Mercosul-UE (principalmente em países como França e Polônia) é possível imaginar agora ruídos adicionais no ambiente do bloco e, eventualmente, avanços dos grupos contrários ao acordo com os países do bloco sulamericano.
Será necessário deixar a poeira baixar para se obter uma melhor visibilidade desse conjunto de variáveis e seus desdobramentos, mas uma coisa é certa: o governo brasileiro o os agentes econômicos ganharam neste mês de julho uma camada adicional de preocupação em relação aos próximos capítulos da novela do circuito Washington-Brasília-Bruxelas.