No mundo empresarial histórias de sucesso de longa duração costumam servir de exemplos para empreendedores, mas esse universo de negócios também tem o hábito de olhar para cases de sucesso de outras áreas para adaptar ao dia a dia das empresas. Um exemplo bem-sucedido de marca e negócios é o da Rolling Stones: 60 anos arrastando multidões e com uma marca que ultrapassa os espaços de apresentação.
No seu aniversário de 60 anos, você pensa em mudar alguma coisa no seu jeito de se apresentar ao mundo? Essa pergunta foi respondida na turnê Sixty, da banda inglesa Rolling Stones. A língua para fora, ícone da banda, adapta-se aos tempos atuais de amplo uso de redes sociais digitais, coreografias, busca por audiência online e influências. Deixa de ser estática e passa a incorporar movimentos – algo muito próximo do sex appeal que a banda sempre carregou –, quase uma trend para o Tiktok. Mas sem perder aquele limite de abertura ideal entre ser provocante e ser erótica.
O responsável pela nova identidade visual da turnê dos Rolling Stones é o diretor criativo Mark Norton, da agência Thinkfarm, com sede em Londres. Ele trabalha há exatos 33 anos formatando a imagem da banda para os palcos, adaptando a linguagem que a turnê quer passar para a plateia. E quando falamos em plateia, não estamos abordando uma simples pessoa que comprou um ingresso para ver um show de rock. Estamos falando de milhares de pessoas que se deslocam por um país inteiro, lotando um estádio, para “sentir” uma das maiores bandas de todos os tempos se apresentar.
Aqui, no trabalho de Norton, entram conceitos tão amplamente difundidos hoje, como a “experiência do cliente.” Um show dos Stones não é apenas um evento para quem gosta de música; é algo que pode transformar a vida das pessoas, muitas delas que nunca assistiram a banda ao vivo e que passaram décadas esperando por esse momento. Parece drama, mas é uma situação muito comum para fãs de países da América Latina, especialmente o Brasil. As apostas são que a banda deve aterrissar em solo brasileiro no final de 2022.
Em entrevista exclusiva ao site Wallpaper, especializado em arquitetura e design, Norton explicou que seguiu conceitos conhecidos de design. Por se tratar de um aniversário tão marcante – 60 anos de uma banda de rock –, foi necessário olhar para dentro para propor a nova língua. Porém, também era preciso mostrar que a banda segue mirando o futuro, afinal, são senhores em cima de um palco com mais energia que muitos jovens por aí.
“O logotipo era uma coisa estática, mas aqui queríamos algo que parecesse sexual, que tivesse aquela umidade, que não fosse feito de ângulos ou desenhos corporativos, mas que fosse ao cerne do Stoneness de uma maneira antiga [e ainda] foi o modelo para algo vívido, colorido e moderno”, afirma Norton ao site Wallpaper. A partir desses pontos, foi criado um sistema de design que usa abordagens novas e antigas, criando um guia de estilo. “Foi o pensamento sistêmico inspirado pelo próprio enigma: como você lida com o novo ao mesmo tempo que permanece velho?”, acrescenta o diretor criativo.
Com o conceito definido, o trabalho “braçal” do redesign da marca dos Rolling Stones seguiu o padrão do setor. Com ajuda da sua equipe, Norton criou um guia de marca, que é repassado para as diversas empresas que trabalham ao longo da turnê. Assim, sabe-se o que se pode ou não fazer com a logo.
Sobre os elementos de design mais importantes para o palco da turnê Sixty, Norton destaca as estações do ano. O início da temporada é quase sempre pelo verão europeu, quando o sol costuma se por lá pelas 22h. Muitas vezes, o show começa e termina com a luz natural. Norton confessa que nem sempre trabalha com um material tão “visceralmente central para a aparência do palco”, nas palavras dele. Mas agora trata-se do aniversário de 60 anos e algo especial precisava ser produzido. Foi assim que surgiu uma grande peça impressa estática de arte.
A situação torna mais fácil, segundo Norton, quando a turnê sai dos ensolarados dias do verão europeu e ultrapassa as fronteiras do velho continente. Com os shows acontecendo com a noite já caída, o palco torna-se quase uma tela em branco para os designers de iluminação.
Depois de 33 anos trabalhando junto aos Stones, parece até fácil para Norton falar sobre sua arte. Mas nem sempre foi assim. A parceria com a banda inglesa começou em 1989, com a turnê Steel Wheels. Aos 28 anos e com os joelhos tremendo, ele aguardava os integrantes da banda saltarem de quatro limusines estacionadas do lado de fora do escritório, que funcionava na garagem da casa do cenógrafo Mark Fisher, até então um jovem arquiteto que não queria se amarrar às tendências do mercado e que havia projetado o palco da turnê The Wall, do Pink Floyd. Lá dentro, uma maquete do palco dos Stones e um portfólio no tamanho A1 com os esboços do que Norton pretendia fazer.
“Produzi gráficos, os elementos de identidade, o componente de branding, ajudei a vestir o palco, [trabalhei] na capa do álbum e no visual de marketing”, lembra Norton.
E embora, mesmo em 1989, já se tratasse de uma das maiores bandas do mundo, os integrantes o deixaram à vontade para contar suas ideias. Mick Jagger colaborou bastante com a arte da marca e com a história da banda. As conversas fluíam sobre os livros que estavam lendo. Jagger destacava o livro Mona Lisa Overdrive, de William Gibson, sobre a vida de um personagem avatar. E assim nasceu um palco projetado por Mark Fisher – “uma evocação muito física de uma cidade portátil quebrada que chegou em todos esses estádios”, na descrição de Norton.
E quem não deseja ver de perto essa história de sucesso? Sessenta são os novos quarenta, então porque não esperar que Mick, Keith e Ronnie venham mostrar tudo isso no Brasil.