Um panorama das relações entre Brasil e China

Arthur R. Hagopian - Senior Director, Global Strategy & Digital, SPRG Beijing 18 de dezembro de 2023
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Recentemente eu tive o privilégio de liderar um Webinar com a Imagem Corporativa, nossos parceiros da PROI no Brasil. O objetivo da conversa era traçar um franco e aberto diálogo sobre as relações econômicas atuais entre China e Brasil, além do impacto disso nos demais países da América Latina. Entre os pontos que mais falamos estão as oportunidades para as empresas brasileiras na China diante de um cenário pós-Covid 19, o que naturalmente mexe no ambiente local e com os costumes e hábitos dos chineses. Falamos ainda das melhores maneiras de se obter sucesso ao fazer negócio com a China e como evitar erros nesse processo.

Em primeiro lugar temos que entender que a relação econômica entre Brasil e China se tornou dinâmica e estrategicamente importante para ambos nos últimos anos. Já que estamos falando de dois gigantes emergentes, é natural que a colaboração mútua impacte diretamente a cadeia global e a estabilidade econômica internacional. A China é hoje o maior parceiro comercial do Brasil e os laços econômicos entre as duas nações estão profundamente enraizadas na troca de bens e serviços, ganhando uma força ainda maior desde o início do século XXI.

Esse comércio bilateral na parte de commodities inclui principalmente a troca de soja, minério de ferro e petróleo. Atualmente, as duas nações desfrutam ainda de uma relação política e diplomática mais favorável e por isso a tendência de crescimento é significativa. Aliás, essa tendência vai além do Brasil e se estende a outras regiões da América Latina, já que o Equador foi o último país da região a assinar um Tratado de Livre Comércio com a China em maio, juntando-se ao Chile, à Costa Rica e ao Peru.  Os consumidores chineses estão conhecendo melhor a região com o aumento de produtos nos mercados locais, incluindo camarão equatoriano, carne bovina brasileira, blueberry chileno e café colombiano.

A economia da China superou as expectativas durante o terceiro trimestre deste ano, com o consumo e a atividade industrial em setembro apresentando resultados positivos inesperados. Isso indica que o recente conjunto de medidas políticas está fortalecendo ainda mais a recuperação em andamento após o período de crise da Covid-19. Notavelmente, as vendas no varejo da China aceleraram o ritmo, crescendo 4,6% em relação ao ano anterior, superando as expectativas.

Isso é fundamental, já que a importância do consumo na China não pode ser superestimada diante do alto número de habitantes no país. Em fevereiro deste ano, o ex-primeiro-ministro da China, Li Keqiang, declarou que “o maior potencial da economia chinesa está no consumo de 1,4 bilhão de pessoas”. Afinal, o desejo dos consumidores chineses por produtos importados continua extremamente forte e isso representa uma oportunidade significativa para as marcas estrangeiras entrarem e expandirem sua presença na região.

Por exemplo: se considerarmos todas as categorias demográficas na China, os consumidores neste momento pós-Covid estão priorizando o bem-estar e a experiência em relação às marcas de luxo.  A seguir estão as áreas que terão um crescimento significativo em 2024:

  • Produtos relacionados à saúde e ao bem-estar;
  • Turismo/entretenimento;
  • Produtos relacionados à atividades de lazer/esportes;
  • Itens alimentícios importados (especialmente frescos);
  • Moda, vestuário e acessórios.

Nota-se que, de uma maneira geral, os consumidores chineses pós-Covid passaram por uma mudança em seus desejos e hábitos. Há uma ênfase acentuada em saúde, esportes e bem-estar, com essas categorias apresentando um aumento de popularidade no último ano.   Os consumidores têm demonstrado um comportamento de compra mais racional, demonstrando um interesse maior em produtos que priorizam a experiência em vez do puro materialismo, especialmente aqueles que contribuem para o bem-estar ou atendem às necessidades espirituais.

Essa mudança é acompanhada por um foco persistente na inovação, à medida que os consumidores adotam novas formas de compras, como por meio de transmissão ao vivo. Além disso, há um aumento perceptível na importância da sustentabilidade dos produtos, com os consumidores da Geração Z liderando o processo e uma demanda crescente por qualidade em todo o cenário de consumo.

Há ainda um outro mercado promissor para quem deseja investir na economia chinesa: os serviços para idosos. A população local está envelhecendo rapidamente e as projeções indicam que, até 2050, o país abrigará cerca de 400 milhões de pessoas com 65 anos ou mais, o que representa quase 30% de sua população total. Essa mudança demográfica apresenta a oportunidade para o fornecimento de produtos e serviços adaptados às necessidades e preferências exclusivas dos idosos. Desde soluções de saúde e moradias para aposentados até opções de lazer e entretenimento, as empresas que priorizarem a criação de ofertas adequadas à idade poderão se beneficiar desse mercado em expansão.

Quando falamos de comércio eletrônico, o apelo para que as marcas estrangeiras se envolvam ativamente neste mercado é inegável. Em junho de 2022, o setor constituía incríveis 45,3% do total de vendas no varejo do país, um número que supera a participação de 16,1% do mercado americano de comércio eletrônico. O tamanho e o potencial de crescimento da esfera de comércio eletrônico da China são motivos convincentes para que as marcas internacionais estabeleçam uma presença robusta nela.

As previsões indicam ainda que o setor de comércio via mídias sociais na China pode disparar para o notável valor de US$ 2 trilhões até 2028, marcando um salto substancial em relação à sua avaliação de US$ 363 bilhões em 2022. Com uma taxa de crescimento anual composta projetada de 33,7% entre 2022 e 2028, esse mercado dinâmico oferece às marcas estrangeiras oportunidades inigualáveis de expansão e penetração no mercado. Manter-se ativo no cenário de comércio eletrônico da China não é apenas benéfico, mas sim, imprescindível o para aqueles que buscam prosperar no mercado mais lucrativo e em rápida evolução do mundo.

Para alcançar sucesso no mercado promissor e diversificado da China, aponto aqui algumas estratégias cruciais que as marcas devem considerar:

Localização

A localização vai além da cidade onde um escritório está inserido. O profundo impacto das grandes diferenças geográficas ressalta a importância da localização eficaz. Para obter sucesso na China, é essencial adotar uma abordagem “China First”. Essa abordagem reconhece a dinâmica exclusiva do mercado chinês e enfatiza a adaptação de estratégias para se alinhar às necessidades e preferências específicas do público local.

Parte da localização é entender completamente o “Guo Qing”, ou seja, adotar o conceito de “características nacionais” ou entender as “circunstâncias especiais” de um país. Isso é fundamental para os profissionais de marketing de marcas que desejam criar produtos ou serviços que repercutam no público chinês. Essa abordagem exige uma consciência meticulosa dos desenvolvimentos geopolíticos e políticos, o que ressalta a importância de se manter em sintonia com o cenário dinâmico para obter sucesso sustentado no mercado chinês.

Comunicação e Markerting assertivos   

É importante adotar uma abordagem omni-channel para ter sucesso em vendas na China. Aproveitar os principais influenciadores amplia a visibilidade e a ressonância da marca em diversos grupos de consumidores. Além disso, é essencial aproveitar a tendência Guo Chao (“onda nacional”), baseada no conceito de Wen Hua Zi Xin (“confiança cultural”). Isso envolve uma mistura harmoniosa de inovação e design contemporâneos com referências profundas a tradições culturais, garantindo que sua marca não apenas acompanhe o ritmo dos mercados em rápida evolução, mas também capture a essência do “zeitgeist” cultural exclusivo da China.

Relacionamento com o governo

Assim como qualquer outro país, ao entrar na China é necessário manter um bom relacionamento com o governo local. É fundamental ter uma compreensão abrangente das políticas, principalmente em relação ao produto ou serviço específico que está sendo oferecido – por exemplo, entender as regulamentações que envolvem alimentos importados ou veículos elétricos. Os governos locais podem servir como aliados fundamentais, oferecendo apoio substancial ao investimento estrangeiro direto, principalmente quando o produto ou serviço está alinhado com as metas nacionais estratégicas.

Criar e cultivar relacionamentos com autoridades governamentais é um movimento estratégico que rende dividendos significativos. Além disso, enfatizar produtos ou investimentos que contribuam para o bem-estar da China e de seu povo, além de meros lucros e empregos, ressalta o compromisso com o benefício mútuo e se alinha com as metas mais amplas do governo.

Estes são alguns insights importantes de nosso recente Webinar com a Imagem Corporativa. Acreditamos que esta apresentação não só ofereceu um pano de fundo convincente para a dinâmica econômica em evolução entre a China e o Brasil, mas também proporcionou uma compreensão sólida e diferenciada das oportunidades extraordinárias que o mercado chinês oferece.

Veja o Webinar completo aqui.

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