Nos últimos dois anos os cenários políticos e as urnas têm se mostrado cada vez mais implacáveis em diferentes geografias do planeta.
Em 2022 a Colômbia elegeu Gustavo Petro, primeiro político de esquerda a chegar a presidência da República. Ele conseguiu bater as forças políticas mais tradicionais do país mas menos de um ano depois da posse viu sua popularidade cair de 60% para 30%. No Brasil, também em 2022, Jair Bolsonaro foi derrotado por Luiz Inácio Lula da Silva e se tornou o primeiro presidente pós democratização a não conseguir a reeleição. E Lula também tem visto sua popularidade diminuir, segundo pesquisas feitas periodicamente no país. Na Argentina, em 2023, Alberto Fernández foi derrotado na tentativa de reeleição pelo economista Javier Milei, um quase novato na vida pública e candidato situado no oposto do espectro político.
Em 2024, os eleitores desalojaram o Partido Conservador do comando da Grã-Bretanha e entregaram o poder ao seu principal rival, o Partido Trabalhista; os americanos votaram em Donald Trump para remover os democratas da Casa Branca; e mesmo os ponderados eleitores japoneses impuseram uma grande derrota ao Partido Liberal Democrata, que liderou o governo de Tóquio de forma quase ininterrupta nos últimos 60 anos.
Na Alemanha o SPD, partido social democrata do chanceler Olaf Scholz, caminha segundo todas as estimativas para uma dura derrota nas urnas em fevereiro próximo, pouco mais de três anos após chegar ao pode (o que pode levar a guinada em direção à direita no cenário político local). O francês Emmanuel Macron surpreendeu ao convocar uma eleições legislativas antecipadas na França em meados do ano, cartada que não lhe garantiu bons resultados nas urnas e fragilizou seu grupo político com vistas às próximas eleições presidências em 2027.
Também em situação desconfortável está o primeiro-ministro do Canadá, Justin Trudeau, cujo partido perdeu importantes eleições regionais nos últimos meses e tende a perder também as eleições gerais legislativas de 2025 (o que, se ocorrer, colocará outro grupo político no poder).
Curiosamente, três mulheres terminam 2024 em alta: a italiana Giorgia Meloni, primeira-ministra desde 2022, segue com a popularidade em alta; Cláudia Sheinbaum, eleita em junho deste ano e empossada em outubro, é a primeira mulher a ocupar a presidência do México. O terceiro nome é Ursula von der Leyen, aprovada em novembro para um segundo mandato de cinco anos como presidente da Comissão Europeia, cargo que lhe garante não apenas um grande peso político como também o comando de 30 mil burocratas incumbidos dos mais diversos temas técnicos e regulatórios da máquina da União Europeia sediada em Bruxelas.
Ursula von der Leyen foi habilidosa em seus primeiros cinco anos no cargo ao lidar com temas espinhosos como a pandemia da Covid19 e a invasão da Ucrânia pela Rússia. E também soube administrar outro desafio político: o avanço da extrema-direita no continente. Ela fez isso ao tentar isolar aqueles políticos radicais praticando o que ficou conhecido como “cordão sanitário”, destinado a impedir a radicalização à direita na agenda da União Europeia.
Nas últimas eleições para o Parlamento Europeu, em junho deste ano, o agrupamento radical Patriotas pela Europa (composto pelos partidários do primeiro-ministro húngaro Viktor Orbán; da líder francesa Marine LePen; do líder italiano Matteo Salvini; de Santiago Abascal do partido Vox na Espanha e de André Ventura, do partido Chega em Portugal) ganhou 84 dos 720 assentos. Pode parecer pouco, mas esse foi de longe o melhor resultado eleitoral da extrema-direita no contexto continental.
No segundo mandato de von der Leyen tende a se repetir uma fórmula adotada em seus primeiros cinco anos como presidente da Comissão Europeia: a costura de uma aliança informal de centro que inclui, além do seu próprio Partido Popular Europeu de centro-direita (que conquistou o maior número de cadeiras em junho), os socialistas e o agrupamento liberal Renew.
Há expectativas de que ainda na primeira metade de dezembro possa ser finalizado um acordo comercial entre União Europeia e Mercosul que há anos vem sendo discutido. Se for de fato fechado o acordo significará uma nova conquista de Ursula von der Leyen, que tem articulado pessoalmente em favor de um entendimento entre os dois blocos.